quinta-feira, 12 de julho de 2012

FIM DE SAFRA

Foto Milena Reinert
Pescadores artesanais catarinenses estão diante de
uma das safras de tainhas mais baixa dos últimos seis anos

Temporada termina no próximo domingo

 
Laís Novo 


"Só se corria notícia. De Santa Marta para lá. O peixe tava em cardume. Sem vento pra viajar".
Os versos que marcaram o Inverno escasso de 1957 deixam os lábios do pescador Carmino Ramos, 65 - o Seu Mino - como um lamento, enquanto os olhos observam o grupo de pescadores arrancar, tábua por tábua, os pedaços de madeira do barracão, montado para dar suporte à pesca da tainha, na Ponta do Papagaio, em Palhoça. Seu Mino lembra de quando o pai, também pescador, compôs esses versinhos, que murmurava com uma expressão preocupada, quando chegava em casa.

Mais de 50 anos depois, as rimas, gravadas em sua memória de menino, voltaram a fazer sentido, pois os pescadores artesanais catarinenses estão diante de uma das safras de tainhas mais baixa dos últimos anos - 210 toneladas no Estado, menos de um quarto do que foi produzido em 2011, segundo dados do Sindicato dos Pescadores de Santa Catarina.
Temporada termina domingo
Pior, só em 2006, quando a captura havia sido de 205 toneladas.

Apesar de o período de pesca da espécie acabar só no próximo domingo, dia 15, para Seu Mino, a captura já terminou, e o desmanche do barracão simboliza o fim, deixando um prejuízo de aproximadamente R$ 5 mil no que foi investido em madeira e alimentação.

Munidos de pás, martelos e pés de cabra, os homens colocaram abaixo, ontem, a estrutura erguida no final de abril, quando a promessa de uma safra farta trazia esperança e ânimo para os 28 pescadores daquele grupo. No entanto, depois de capturar apenas duas toneladas, o sentimento generalizado é a decepção, pois estão acostumados a pescar quase 10 vezes mais.
"É o peixe chave do ano"
Seu Mino busca comparação entre as duas épocas:

— Em 1957, o peixe não veio. Esse ano aconteceu parecido. Diziam que os cardumes tão lá pro Sul, sem viajar. Não deu nem frio e nem Vento Sul pra trazer os cardumes pra cá com a corrente — acredita.

Inconformado, o pescador Avelino Roani, 46, desabafa que a tainha costuma garantir a renda de Inverno, mas, neste ano, alguns pescadores não capturaram nem o necessário para servir a mesa da família.

— É o peixe chave do ano. Quando não dá, fica todo mundo de cabeça baixa, desanimado — lamenta.
Prejuízo chega a até R$ 80 mil
De acordo com o presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, Ivo da Silva, a safra deste ano foi decepcionante, pois os indicadores naturais sugeriam que seria farta. A escassez de chuva, que provoca maior concentração de sal na Lagoa dos Patos - um dos principais estuários da espécie, no Rio Grande do Sul - havia criado o clima ideal para a procriação do pescado.

— Muita gente investiu em novas redes e embarcações. Gastaram de R$ 2 mil a R$ 80 mil e agora estão no prejuízo — diz o presidente.

A tainha representa de 20% a 40% da renda anual dos pescadores artesanais. Alguns ainda esperam que o Vento Sul ainda traga alguns cardumes. Depois, é confiar na safra da anchova.
Calor inibe a migração
Segundo o coordenador do Grupo de Estudos Pesqueiros da (Univali), Paulo Ricardo Schwingel, a principal causa da escassez de cardumes foi o clima em maio e junho, no auge da migração da espécie. As tainhas viajam para o Norte, para águas mais quentes em relação ao Rio Grande do Sul. Com o calor, não precisam subir tanto para desovar.

— Semana passada, os barcos capturaram 35 toneladas em Torres, no Rio Grande do Sul, muito ao Sul para a época, quando o normal é encontrar os peixes na altura de Paranaguá, no Paraná. Isso indica que a migração foi pequena — avalia.
A pesca artesanal nos últimos anos
No Estado

::: 2012 - 210 toneladas

::: 2011 - 940 toneladas

::: 2010 - 1,2 mil toneladas

::: 2009 - 1,1 mil toneladas

::: 2008 - 923 toneladas

::: 2007 - 2,1 mil toneladas

::: 2006 - 205 toneladas

Em Florianópolis

::: 2012 - 83 toneladas

::: 2011 - 480 toneladas

::: 2010 - 620 toneladas

::: 2009 - 265 toneladas

::: 2008 - 410 toneladas

::: 2007 - 893 toneladas

::: 2006 - 60 toneladas

Fonte: Federação dos Pescadores de Santa Catarina

(Do jornal HORA DE SANTA CATARINA - www.clicrbs.com.br)

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