sexta-feira, 17 de maio de 2013

TAINHAS NO NORTE

Foto Marcos Porto / Agencia RBS

Tradição da pesca artesanal da tainha sobrevive no Litoral Norte catarinense

Pescadores se mantém pela promessa de ganho financeiro aliada à manutenção da cultura regional

por Dagmara Spautz
dagmara.spautz@osoldiario.com.br
O dia mal havia amanhecido e Eladio Euflorzino já mantinha os olhos atentos ao mar na Praia de Taquaras, em Balneário Camboriú. Hoje com 67 anos, ele aprendeu ainda criança a ver se aproximar um cardume de tainhas. Diz que é preciso ter o olhar treinado para perceber as manchas avermelhadas na água e os peixes que, ao longe, saltam sobre a superfície. Na quarta-feira, primeiro dia da safra da tainha, mantinha os barcos na areia, à espera da sorte.

— A chegada da tainha é um segredo que nem o pescador sabe direito. Agora não tem nada, mas daqui a pouco pode aparecer um cardume — diz o pescador.
Nos três últimos anos o peixe não apareceu em Taquaras. Para saciar a vontade de comer tainha, Euflorzino chegou a comprar uma caixa da iguaria — muito diferente do que ocorreu em 2006, quando ele tirou do mar seu maior lanço, com 26 toneladas de tainha.

Para o pescador, os cardumes têm diminuído — algo que tem sido comprovado em estudos feitos por pesquisadores de quatro universidades brasileiras, entre elas a Univali, de Itajaí. Mesmo assim, ele se mantém firme na pesca que, além de renda, é garantia de manter viva uma tradição centenária nas praias da região.

— É bonito quando cerca a tainha, quando ela pula em cima da rede.

Entre amigos

Os costumes que cercam a pesca artesanal de tainha, que incluem dois meses de convivência contínua com o grupo de pescadores, à espera dos cardumes, é outro atrativo para quem não abre mão da pesca. O café coado logo cedo, com os pés na areia, o carteado e a conversa fiada fazem parte da cultura do cerco à tainha.

José Francisco Albino, mestre em História Cultural, diz que o valor econômico da captura artesanal de tainha e o fato de ser uma modalidade de pesca que mobiliza as comunidades ribeirinhas são fatores determinantes para a manutenção da tradição. 

— Por não haver mais fartura na pesca, muitos pescadores hoje tem outras atividades. Mas a pesca artesanal resiste e tem conotação histórica, de uma prática que vem sendo feita há muitos anos.

À espera do vento Sul

O paredão de edifícios na Avenida Atlântica também serve como pano de fundo para a pesca artesanal de tainha em Balneário Camboriú. Na quarta-feira de manhã, com a bagagem na areia, os pescadores esperavam a construção dos barracões, por parte da prefeitura, enquanto faziam planos para os próximos meses.

Pescador desde a infância, Pedro José Damaceno, 70 anos, mantém três canoas a postos, prontas para cercar os cardumes quando eles aparecerem.

— Estamos esperando o vento Sul. A pesca da tainha vale a pena porque é um peixe muito bom, que vende bem.

De acordo com a Epagri/Ciram, o vento Sul sopra no Litoral desde ontem, favorecendo o fluxo de águas frias. De hoje até sábado, a temperatura oceânica ficará mais baixa, com expectativa de bons lanços de tainha.

A possibilidade de ganhos, para os pescadores, pode chegar a R$ 20 mil em uma boa safra _ dinheiro que é dividido entre todos que atuam na pesca artesanal.

Conheça a tainha

Distribuição: Atlântico Ocidental, em toda a costa brasileira. Tradicionais no Sul e Sudeste do Brasil

Tipo de pesca: Frota de cerco e arrasto de praia na frota artesanal
Curiosidades: Alimentam-se de algas, microorganismos e detritos orgânicos encontrados no fundo do mar. Caracterizam-se também por suportarem grande alteração de salinidade. Suas ovas são bastante apreciadas como iguaria em várias regiões. As capturas ocorrem principalmente durante o inverno, durante a migração reprodutiva.

Fonte: Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali (GEP)

(Do O SOL DIÁRIO - www.clicrbs.com.br)



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