domingo, 24 de janeiro de 2016

PESCANDO VIDA


Ieda e João estão casados há 59 anos e sempre foram parceiros de pescaria pelo litoral catarinense
Foto: Marco Favero / Agencia RBS

Amor e pescaria: há 59 anos, João e Ieda pescam um ao lado do outro em Santa Catarina 

Por 
ERICH CASAGRANDE 

Ele tem 82 anos. Ela, 77. Quem os encontra sobre a Plataforma de Pesca da Praia do Rincão, no Sul do Estado, lançando suas linhas ao mar em silêncio contemplativo não tem dúvidas: João Manuel Antônio e Ieda Teixeira são um casal. Há 59 anos os dois vivem juntos, pescando e namorando, cruzando verões e sorrindo da própria história.

Quando tinha 24 anos, João Manuel Antônio abandonou a noiva em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e voltou para sua terra natal, de onde tinha saído com 19 anos. Queria casar com alguém que fosse do mesmo lugar que ele.

— Procurei a moça certa. Namorei algumas gaúchas, mas não dava certo. Queria conhecer alguém daqui — resume Antônio sobre a decisão que definiu o curso de sua vida.

De volta a Urussanga, encontrou o pai de Ieda na plantação de mandioca e à noite foi apresentado a sua futura esposa. Ela tinha 19 anos e o conheceu na sala de casa. Namoraram alguns meses e já começaram a se divertir juntos pescando em rios da região. Casaram e o hábito continuou pelas cidades em que passaram: Porto Alegre, Florianópolis, Campos Novos, Araranguá e agora, Criciúma. Em todas as cidades em que viveram, dividiram o tempo silencioso à margem de algum rio, mar, ou lagoa. Pescando.

— A gente esquece do mundo. Descansa. Tira os pensamentos ruins e os joga ao mar. Eu não sei pescar sozinho mais, é melhor junto com ela — conta João.

Depois de 59 anos de casados, os dois ainda dividem o mesmo corrimão da plataforma de pesca de Balneário Rincão. Com suas varas de pesca separadas por alguns passos, sentavam em silêncio, cada um no seu banco, cruzando olhares que se comunicam sem qualquer palavra. O vento forte sobre a plataforma, que avança 300 metros dentro do mar, balançava as abas do chapéu de palha de João e a saia florida de Ieda. Ele mais conversador, ela mais tímida.

— Me criei num lugar que tinha rio e roça. Nós plantávamos mandioca, tínhamos um engenho e depois íamos pescar. Essa saúde que temos, graças a Deus, deve ser fruto dessa vida. Eu cuido da minha casa, faço pão e pesco. Eu me divirto com isso — lembra Ieda após lançar sua linha sobre as ondas do mar.

E com a paciência de quem pesca ao longo dos anos, os dois se integram a paisagem. Quem passa pela plataforma sólida e firme sobre o mar também não tem dúvidas de que os dois continuarão a pescar juntos.

— Sempre. O que Deus uniu não se separa mais. São 59 anos que estamos felizes — garante Ieda.

(Do www.clicrbs.com.br)

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